
Sobre nós
Todos nós que nascemos nos anos 60 e 70, não devíamos ter sobrevivido até hoje para contar as nossas memórias, até porque as nossas caminhas de bebé eram pintadas com cores bonitas, em tinta à base de chumbo que nós muitas vezes lambíamos e mordíamos.
Quando andávamos de bicicleta, quem a tinha emprestava a todos ou seja a bicicleta era de todos,não usávamos capacetes nem outras protecções.
Quando éramos pequenos, viajávamos em carros sem cintos ou airbags e viajar á frente era um bónus.
Bebíamos água do Zé Maria e da Bela Vista e não da garrafa e sabia bem.
Comíamos pão com azeite e açúcar, gelados Tátá, sandes de Sola-Sola da Sede nos intervalos dos Filmes, batatas fritas Pala-Pala, e outras coisas, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora.
Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e até pastilhas Gorila e não morremos disso.
Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pela rua do Zé Maria abaixo, para só depois nos lembrarmos que esquecemos de montar uns travões.
Andávamos na Praça á procura de caixas de frutas para fazermos carrinhos e para depois aproveitarmos a madeira para fazer fogueiras nos Santos Populares.
Andávamos em tábuas de madeira a descer as escadas das Cintinas e por vezes com pneus a rodarem á força de paus e do braço.
E as corridas de mijo a começar na ladeira para ver qual era o mijo que chegava primeiro á descida.
O toque de chamada para as refeições era o grito inconfundível das nossas mães.
Depois do banho semanal de sábado até apetecia ver a Galactica. E o Conan ao sábado de manhã, por vezes até faltavamos á escola.
O jogos de Bola no Campo dos Amarelos e no Campo do Loi (mas este era a descer), e quando dizia-mos: Vai um desafio? Havia logo alguém que dizia “Safio e Pescada”.
E os acampamentos em Troia, no Biafra. Havia malta que levava um pacote de bolachas para passar um fim de semana. Também saíram casamentos destes tempos.
Saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo, desde que estivéssemos em casa antes de comer.
Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso.
Não tínhamos PlayStation, X Box. Havia o jogo da carica nos passeios, o espeta, o io-io, o pião.
Jogávamos ao Róró, ao Cámone e á Zanabatuta, e a jogar á estátua era biqueirada pra cima.
Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVD, Chat na Internet. Filmes só na Sede da Mecânica com o Projectista Xerife e Calhau.
Tínhamos amigos - se os quiséssemos encontrar íamos á rua e assobiava-mos.
Batíamos ás portas de vizinhos ou tocávamos ás campainhas e fugíamos e tínhamos mesmo medo de sermos apanhados.
Íamos a pé para casa dos amigos. Acreditem ou não íamos a pé para a escola;
Não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.
Os papagaios com canas e papel de jornal e fio de pesca eram lançados ao pé do Moinho.
Comprávamos bisgo numa casa ao pé da passagem de nível no Quebedo, afim colocar em ramos para apanharmos pássaros para ir vender ao Alvarinho.
Os bailes no Alvarinho eram tarde bem passadas com todos á espera da hora dos Slows.
Os dias que passávamos no Moinho a queimar enxofre que íamos buscar á linha do Comboio. Aproveitávamos estar na linha do comboio para colocarmos moedas no carril para ficarem todas achatadas.
As tardes e noites no Sprinfellows, no Chez Moi, na Cubata e mais tarde no Laurindo´s.
As excursões para irmos acompanhar o nosso VITORIA.Tinhamos bastante dedicação ,empenho e vontade para competirmos com as outras claques, e não faltava engenho e imaginação para competir com as outras claque, ora recordem-se:
Os outros tinham fumo em embalagem próprias, nós tinhamos Pó de Talco, por vezes lá se arranjava um extintor mas a idéia mais genial foram das Sebas da Troia a serem queimadas num fogareiro na bancada durante o jogo (os velhos até fugiam...).
Os outros tinham buzinas de ar comprimido, nós tinhamos buzinas de carro ligadas a uma bomba de encher pneus de bibicleta, tinhamos um Sino (os velhos diziam que dava azar ao Vitória) e tinhamos o Caneco ou o Toi no Bombo.
Se infringíssemos a lei era impensável que os nossos pais nos safarem. Eles estavam do lado da lei. Houve uma vez que um velho da rua levou-nos todos a comparecer na policia.
No Verão íamos ao banho á Doca, cheia de morreta e gasóleo. Depois iamos para o Pavilhão do Naval jogar uma futebolada para fazermos tempo para ir á Piscina do Naval onde faziamos todas as artimanhas para entrarmos todos juntos. A cota de dois pagantes dava para a malta toda. Saíamos com o banhinho de água doce tomado.
Tínhamos liberdade, aprendemos a lidar com tudo e foi uma grande escola para o presente.
És um deles?
Parabéns!
Nós, tivemos a sorte de crescer como verdadeiras crianças.
Para todos os outros que não têm idade suficiente pensei que gostassem de ler acerca de nós.
Isto, meus amigos é surpreendentemente medonho... E talvez ponha um sorriso nos vossos lábios.
Sabiam que os nossos filhos e sobrinhos:
Nunca ouviram falar de Duran Duran ou Human League.
A SIDA sempre existiu.
Os CD's sempre existiram.
O Michael Jackson sempre foi branco.
Para eles o John Travolta sempre foi redondo e não conseguem imaginar que aquele gordo fosse um dia um deus da dança.
Não conseguem imaginar a vida sem computadores e telemóveis.
Não acreditam que houve televisão a preto e branco e que por vezes tinhamos de colocar um filtro azul em frente do ecran.
Agora vamos ver se estamos a ficar velhos:
1. Entendes o que está escrito acima e sorris.
2. Precisas de dormir mais depois de uma noitada.
3. Os teus amigos estão casados ou a casar.
4. Surpreendes-te ver crianças tão á vontade com computadores.
5. Abanas a cabeça ao ver adolescentes com telemóveis.
6. Lembras-te da Gabriela (a primeira vez).
7. Encontras amigos e falas dos bons velhos tempos.
SIM ESTAMOS A FICAR VELHOS HeHeHeh , mas tivemos uma infância do "CARAÇAS"
Filipe Martins - Horizonte + novo